Mas, afinal, o que é produção?
Produção é uma arte, uma técnica, uma paixão. Um vício. E posso dizer isso com conhecimento de causa. Não estou nas bodas de ouro mas já nas de Açúcar e posso acrescentar o afeto, como diria o mestre Chico Buarque. E tem que ter afeto mesmo.
Se você for aos livros, vi ler que Produção Audiovisual é a ação de fazer com que a idéia de alguém se torne realidade: um filme, uma série de TV, uma novela, um jornal. É juntar recursos humanos e materiais para executar atividades das ditas três fases: pré-produção, produção e pós-produção. E o produtor, aquele que ordena, discute, projeta, planeja, executa, presta contas, negocia... ufa!
Mas a produção vai além das três fases. Começa bem antes e termina bem depois. Começa com o compartilhar um sonho com alguém que você pode ter conhecido há algumas horas. Passa por compartilhar a paixão por esse sonho: primeiro com a equipe, para transformá-lo em realidade, e depois com o público. Chega a uma espécie de fim quando o projeto já vai caindo no esquecimento do tempo ou
é substituído pela urgência de realizar um novo sonho.
E por falar em sonho, não sei mesmo como produtor sonha tanto. Afinal, quase sempre acordam cedo, dormem tarde, andam com pastas, papéis, bloquinhos e uma agenda quase sem folhas em branco. E ainda arranja tempo para ser figurante, ajudante, motorista, cozinheiro, copeiro, digitador, comerciante, investidor, vendedor, redator e assistente de todo mundo. e olha que parei a lista para não me alongar.
Todos os bons produtores que conheci até hoje carregam aquele brilho no olhar quando estão com um novo projeto nas mãos. São também obstinados e não têm medo de ousar quando enxergam, antes de todo o resto do mundo, o que está por vir. De bom ou de ruim, deve-se registrar. Entre planilhas, e-mails, cronogramas o produtor tempera a vida com paixão. Sim, porque de modo saudável, esse trabalho de 'produzir' se entranha na pele da gente e se mistura com o sangue e vira dependência química. Vira sonho, conversa de bar, interesse e toma até a hora do lazer (que produtor dispensa um bom filminho?!).
A Plano 9 tem esse nome por causa do filme, quase homônimo, Plano 9 do espaço sideral (EUA - Plan 9 from outer space), de 1954, de Ed Wood. Descrito como o 'pior cineasta de todos os tempos', Edward Davis Wood, Jr. foi produtor, roteirista e diretor de inúmeras películas consideradas 'filme B', ou trash, como preferir, a partir do fim da década de 1950. O detalhe é que Wood tinha mais vontade (ou paixão) do que dinheiro. Mas isso não o impediu de roteirizar e dirigir mais de 30 filmes em quase 3 décadas. Ainda que com efeitos especiais que lembram muito defeitos especiais, atores duvidosos, financiadores controversos - Plano 9 teria sido financiado pela Igreja Batista (!) - e aproveitando restos de película de outras produções ou cenas gravadas em espaços de tempo descontínuos.
Entre os filmes mais famosos de Ed Wood (além de Plano 9), estão A noiva do monstro (Bride of the monster), Noite das assombrações (Night of the ghouls, ou Revenge of the dead), Orgia da morte (Orgy of the dead). O diretor ainda associado a Bela Lugosi, o célebre intérprete do Conde Drácula, com quem fez alguns filmes. Ed Wood seria posteriormente homenageado pelo aclamado Tim Burton em 1994, com a realização de filme que leva eu nome como título, cuja interpretação fica por conta de Johnny Depp.
Hoje Wood coleciona nomeclaturas de 'cult' em seus filmes e nos deixa a lição de que produzir, isto é, fazer acontecer é, antes de tudo, ter paixão por aquilo que escolhemos fazer. Isso certamente nos empurra para frente, nos compele a produzir, acima de qualquer coisa, com orgulho de ser autenticamente aquilo que escolhemos ser.
terça-feira, 14 de julho de 2009
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eita!! ed wood é massa!! =D
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